No Brasil, em consequência da grave crise sanitária, com o crescimento do número de infectados e de mortes, foi necessário adotar, entre as medidas de isolamento, o fechamento das escolas para conter a progressão da doença e, dessa forma, contribuir para evitar o colapso dos nossos sistemas de saúde. Cabe considerar que esta medida assume uma grande importância face ao fato de que os setores relacionados à educação – trabalhadores, estudantes e familiares – envolvem mais de 50 milhões de brasileiros.
Nesse contexto, nos governos, nas universidades, nas escolas e nas famílias, repercute o debate a favor e contra o fechamento das escolas e de volta às aulas presenciais. Essa questão é extremamente complexa e sem dúvida exige considerar o posicionamento dos professores. Neste sentido cresce o movimento dos professores e envolvidos com a questão da educação, em defesa de uma volta segura às aulas, que implica no cumprimento dos protocolos de segurança e vacinação geral de todos os trabalhadores em educação.
È preciso combater argumentos que desqualificam o posicionamento dos professores, não tendo base na realidade. Alegar que os professores não querem voltar às aulas presenciais porque não querem trabalhar, além de desrespeitoso com uma categoria de muita importância social, é um argumento totalmente falacioso.
O grande mérito desse momento é dos professores e professoras que se agigantaram diante dos problemas e debilidades e que se reinventam a cada momento, desde o início da pandemia.
Aulas remotas, mídias sociais, plataformas digitais, aulas gravadas, contatos diuturnos com alunos, pais, colegas e gestores, horas insones, sem descanso e lazer, acarretam um “sobre trabalho” não remunerado. Os professores brasileiros estão entre os mais mal remunerados do mundo.
Os indicadores assinalam o grande número de pessoas contaminadas e de internações por Covid-19 na Região Metropolitana de Campinas, onde se localizam os oito municípios da base do Sindicato dos Professores de Campinas e Região, o Sinpro.
O sindicato, desde o início da pandemia posicionou-se contrário ao retorno às aulas presenciais sem o maior controle da pandemia e sem a devida proteção à saúde de toda a comunidade escolar. Considera que esta proteção implica no cumprimento de todos os protocolos sanitários e um programa de vacinação em andamento e em estágio avançado, de imunização que possa atender grande parte da população.
Assim sendo, inúmeras ações políticas, jurídicas, e presenciais foram movidas pelo Sinpro, inclusive uma Ação Civil Pública que estipulou o teste obrigatório a todos os professores, protocolos de higiene e segurança para o retorno às aulas presenciais, e proibiu a convocação de docentes do grupo de risco ou que coabitem com pessoas pertencentes ao grupo, inclusive com pesadas multas às escolas pelo descumprimento dessas medidas.
No entanto, na perspectiva de que nada ocorreria, a ganância falou mais alto e o que era ameaça tornou-se realidade, cruel e avassaladora, com o retorno das aulas presenciais: professores, alunos e mesmo familiares foram contaminados nas escolas privadas e públicas, além de carregar para os espaços escolares essa chaga que aflige o município, o país e o mundo.
Aulas presenciais, sem as plenas condições de segurança sanitária colocam em risco todos os brasileiros. Assim cresce o movimento da #VacinaçãoJá que implica na inclusão dos trabalhadores da educação no grupo prioritário para a vacinação.
Este posicionamento se fundamenta no fato de que se as escolas são insubstituíveis, e é importante o retorno das aulas presenciais, os trabalhadores do ensino devem ser considerados como sendo da “linha de frente”, já que eles têm contato direto com todas as faixas etárias da população.
Cabe também considerar as condições de trabalho da maioria dos professores brasileiros que atuam em exposição direta com estudantes, em ambientes fechados, mal ventilados com grande número de alunos por sala. Não há dúvidas que a saúde física e mental dos professores fica fragilizada, diminuindo as defesas do organismo e ampliando os riscos da contaminação.
Sendo assim, os trabalhadores da educação devem ser priorizados na vacinação contra a Covid-19. As aulas presenciais no Brasil só devem retornar após a vacinação desses profissionais, garantindo a segurança sanitária da comunidade escolar e da própria população brasileira.
Conceição Fornasari é presidente do Sindicato dos Professores de Campinas e Região e diretora da Federação dos Professores do Estado de São Paulo-FEPESP
Maria Clotilde Lemos Petta é professora da PUC-Campinas, diretora do Sinpro Campinas e Região, diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino -CONTEE.
Publicado originalmente no jornal Correio Popular de Campinas.